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11 de set. de 2010

O que é a neurociência?

O que é a neurociência?



Por Mônica Vitória



“Penso, logo existo” – A famosa frase, dita pelo filósofo e matemático francês René Descartes no século XVII, representa a importância de uma parte muito especial do organismo humano. Devemos cada uma de nossas experiências, opiniões, memórias, sentimentos, sonhos, instintos e tudo que aprendemos ao nosso sistema nervoso e suas conexões. Não nos damos conta disso até que paramos para pensar sobre como a nossa mente funciona. Quem nunca foi surpreendido com um pensamento do tipo “caramba, como isso é possível?” Quem nunca quis saber o que faz de uma pessoa um gênio, ou como certas funções básicas do nosso corpo conseguem automaticamente se manter (ou param de trabalhar)? Pois é, a neurociência explica.

Para começar, neurociência é um campo de estudo que reúne as áreas do conhecimento que de alguma forma estão associadas ou se interessam pelo funcionamento do sistema nervoso. Entre as disciplinas que a neurociência engloba estão a biologia, a fisiologia, a física, a psicologia, a linguística e outras. A atividade cerebral é o ponto-chave e o foco dos estudos na área. Sem ela, você pode até sobreviver por um tempo, mas sua existência como ser vivo ficará inevitavelmente ameaçada. E é por isso que esse assunto é tão interessante e importante.

Temos quase cem bilhões de células nervosas, os neurônios, em nosso sistema nervoso. Usamos, sim, boa parte deles, mas a importância deste número gigantesco é bem inferior à importância do número de conexões que essas células fazem entre si. O que nos leva a desenvolver e aperfeiçoar habilidades é a fantástica capacidade que o sistema nervoso humano tem de fazer novas combinações entre seus elementos – propriedade que está em constante progresso. E como fazer para explorar ao máximo essa propriedade, melhorando sempre a aprendizagem e a memória? Os neurocientistas respondem: exercite mais e mais a cabeça!

“Assim como o músculo que atrofia se não for exercitado, precisamos usar e treinar constantemente nosso cérebro”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autora de diversos livros e apresentadora do quadro NeuroLógica, exibido entre 2008 e 2009 no programa Fantástico, da Rede Globo, Suzana explica que o cérebro tem como função sempre aprender conforme o seu próprio uso: “Tudo o que a gente aprende, na essência, se dá pelas transformações deste órgão e as conexões entre as células nervosas. Quanto mais trabalhamos isso, mais fácil fica fazer essas mudanças”.

Segundo ela, vários fatores contribuem para isso. “A prática – não existe aprendizado sem prática; a motivação, que é o motor por trás desse aprendizado; o encorajamento por métodos alternativos, pois nem todo mundo aprende da mesma forma; e também a oportunidade, afinal você não descobre do que gosta se não experimentar. Um pianista precisa ter contato com um piano primeiro, para depois descobrir que gosta de tocá-lo e, então, praticar”, esclarece Suzana.

A verdade é que quando não exercitamos nossas habilidades cognitivas, começamos a perdê-las aos poucos. Mas não há uma fórmula mágica para você botar o seu cérebro para malhar e deixá-lo mais inteligente e eficiente. “Não existem exercícios milagrosos; temos que usá-lo o tempo todo, em tudo. Não adianta só ler, ou só fazer cálculos, ou só resolver charadas. Tem que fazer tudo isso e mais. O que ativa o cérebro, em todas as suas diferentes áreas, é a diversidade, o empenho e o desafio”, indica a neurocientista.


Neurônios a todo vapor

Se aprender provoca mudanças no nosso encéfalo, como podemos nos motivar a aprender cada vez mais? “Esse processo de transformação tem que ser prazeroso, acima de tudo. E isso serve para alunos de qualquer idade, em qualquer situação. O assunto a ser estudado ou a habilidade a ser aprendida deve ser interessante, mais do que importante. Se você gosta de números, você terá mais motivação e será mais rápido aprender matemática”, exemplifica Suzana.

Ok, assim fica fácil. Mas é claro que, em algum momento, vai surgir alguma coisa chatérrima que precisa ser aprendida. “Ainda assim, é necessário haver motivação, nem que seja a ideia de se livrar logo daquela matéria ou trabalho. Devemos ter expectativas de satisfação à frente, para ativarmos nosso sistema de recompensa”, acrescenta. O que também ajuda é praticar atividades físicas regularmente, para aumentar o nível geral de motivação. Por incrível que pareça, o exercício físico favorece o nascimento de novos neurônios no hipocampo, parte do cérebro relacionada à navegação espacial e à memória.

O professor pode estimular essa vontade de aprender em seus alunos diversificando seu método de ensino e tentando deixar o objeto de estudo mais instigante. “É preciso investir no retorno positivo do aprendizado, para que os estudantes sejam levados ao acerto. É claro que também aprendemos errando, mas o sucesso facilita o entendimento e nos impele a novos acertos”, completa a especialista.

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