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26 de set. de 2010

Henrique VIII e o Anglicanismo

Henrique VIII e o Anglicanismo



A sucessão que levou ao fim do catolicismo na Inglaterra.

Henrique VIII nasceu em Greenwich, no ano de 1491. Era o segundo filho de Henrique VII. Seu pai, que havia se tornado rei em 1485, tinha entre seus planos principais, duas metas: a primeira era prolongar ao máximo a dinastia Tudor no comando da Inglaterra e, a segunda, evitar que a Espanha, maior potência europeia do período, invadisse seu país. No primeiro caso, providenciou casamento para si mesmo com Elizabeth de York, pertencente à família de Ricardo III. No segundo caso, conseguiu acordo com o Rei Fernando, da Espanha, para que seu filho primogênito, Arthur, se casasse com Catarina de Aragão.



O casamento entre os herdeiros dos tronos da Inglaterra e da Espanha se consumou, mas depois de 5 meses, Arthur morreu de Tuberculose e o acordo com a Espanha ficou por um fio. Para solucionar logo este problema, Henrique VII propôs então que Henrique, seu segundo filho, se casasse com a viúva Catarina. Entre os hábitos e costumes cristãos de então, se acreditava que o casamento de um homem com a esposa de seu irmão era um erro que deveria ser evitado. Por conta desta crença vigente, Henrique VII teve que pedir ao Papa permissão especial para que o casamento viesse a se consumar.


Aos 17 anos, no ano de 1509, em virtude do falecimento de seu pai, Henrique VIII tornou-se rei da Inglaterra. A mudança no comando político inglês foi bem recebida pelo povo já que novos e pesados impostos haviam sido criados pelo pai do novo soberano e, já no intuito de ser bem recebido pelos populares, Henrique VIII ordenara a execução dos homens contratados por seu pai para organizar e orientar a cobrança destas taxas.



O novo monarca inglês preferia se divertir caçando, jogando ou dançando a governar o país. Gastava, em média, apenas uma hora executando as funções governamentais que lhe cabiam e, para compensar sua ausência, atribuía aos ministros por ele nomeados os trabalhos que não executava por estar ocupado com outras atividades. Monitorava tudo e era sempre a palavra final quanto as políticas implementadas por estes ministros, mas utilizava-se deste expediente como forma de isentar-se dos erros e políticas públicas impopulares, atribuindo a seus assessores os problemas surgidos. Como forma de demonstrar que os desacertos tinham origem alheia a si mesmo, era comum que mandasse executar os ministros “responsáveis” pelos descaminhos políticos e administrativos.


Quanto aos planos de seu pai, relativos a continuidade dos Tudors no comando da Inglaterra, Henrique procurava mantê-los e, para cumprir a risca esta prerrogativa, teve 6 filhos com Catarina de Aragão. De todos eles, apenas Mary sobreviveu e atingiu a idade adulta. Os demais morreram apenas alguns meses depois de terem nascido.


Como não havia conseguido o tão sonhado herdeiro do sexo masculino, e também em virtude da idade avançada de sua esposa Catarina de Aragão, que não podia mais ter filhos, Henrique VIII decidiu se casar novamente. Escolheu então a jovem Ana Bolena, de 20 anos de idade, filha do Visconde de Rocheford. Para que o casamento se realizasse precisaria de uma permissão especial do Papa.



Para se justificar perante o Papa, Henrique VIII argumentou que seu casamento deveria ser invalidado, pois Catarina fora casada com seu irmão Arthur poucos meses antes de contrair matrimônio com ele. Sua decisão levou Catarina a buscar apoio junto ao Rei Carlos da Espanha e ao imperador Karl V, do Sagrado Império Romano. Os dois soberanos pressionaram o Papa para que o casamento entre Henrique VIII e Ana Bolena não acontecesse enquanto, do outro lado, o soberano inglês tentava convencer o sumo pontífice a aprovar sua nova união. Para evitar complicações, o Papa se absteve e não opinou sobre o caso.

Em 1533, Ana Bolena estava grávida e, como ainda não havia se casado com o monarca da Inglaterra, os preparativos foram adiantados para que a criança, filha de Henrique VIII, não fosse considerada filha ilegítima. Carlos V ameaçou invadir a Inglaterra, mas suas ameaças foram desprezadas por Henrique VIII.



Dentro de seu próprio gabinete de governo havia também oposição ao casamento com Ana Bolena e, o maior representante desta posição era Thomas More que, em função de suas opiniões divergentes resolveu pedir demissão. Meses depois, como se mostrou contrário a criação de uma nova igreja, controlada pelo rei, em terras inglesas, More foi condenado por alta traição e executado na Torre de Londres.



Da união de Ana Bolena com Henrique VIII nasceu Elizabeth, em setembro de 1533. Para os opositores do rei, era o castigo divino [por conta do casamento ilegítimo] se revelando no nascimento de mais uma filha e não o do tão sonhado menino que poderia ser o futuro rei da Inglaterra.



A posição assumida pelo Papa quanto ao casamento de Henrique VIII só foi anunciada em março de 1534 e foi contrária ao novo enlace matrimonial do rei inglês. Para retaliar e deixar bem claro de quem era o comando na Grã-Bretanha, Henrique declarou que o Papa deixara de ser autoridade em seu país e, em novembro de 1534, conseguiu que o Parlamento aprovasse novas leis que o tornavam o chefe da igreja na Inglaterra. Surgia o Anglicanismo, a Igreja Anglicana.






Após nova tentativa frustrada para conseguir um herdeiro do sexo masculino com Ana Bolena [a criança nasceu morta], Henrique VIII acusou a esposa de traição com cinco diferentes homens e condenou todos à morte. Dez dias depois da execução, o monarca se casou com Jane Seymour e, no ano seguinte, durante o parto de seu primeiro filho neste novo matrimônio, Jane veio a falecer, mas finalmente nasceu o tão esperado menino, Edward.



Na Inglaterra o soberano Henrique VIII sofria pressões tanto de protestantes quanto de católicos ainda fiéis ao Papa. Um dos principais focos de oposição vinha dos mosteiros, abadias e conventos. Monges e freiras mantinham-se fiéis ao Papa e, por isso, foram acusados pelo rei de alta traição. Para que todos os religiosos que se mostravam oposicionistas ao Anglicanismo mudassem de posição, cinco monges foram torturados em praça pública e depois decapitados. No mesmo ano, outros religiosos foram executados, inclusive freiras.

No ano de 1536, foi dada permissão pelo rei para a tradução da Bíblia para a língua inglesa. Esta versão traduzida deveria ser colocada em todas as igrejas do reino, o que acentuava a conversão do reino e do monarca para o protestantismo, apesar de Henrique VIII continuar a se dizer católico.



Outra ação empreendida pelo rei foi o fechamento de mais de 370 mosteiros, cujas terras foram tomadas pela monarquia e depois vendidas a baixos preços para nobres e burgueses. A condição para a compra era que parte dos territórios adquiridos deveria, por sua vez, ser revendida a pequenos proprietários. Com esta medida o que se buscava era ampliar o apoio do povo quanto às medidas de fechamento dos mosteiros. No norte da Inglaterra tal medida não resultou favorável ao rei. Os populares chegaram a organizar um exército a partir de Yorkshire para tentar retomar os mosteiros.



Antes que o confronto viesse a ocorrer foram feitos acordos para que as demandas do exército de Yorkshire fossem levadas ao Parlamento Inglês, o que acalmou a turba e evitou o derramamento de sangue. A promessa do rei não era, no entanto, o que ele de fato pretendia realizar. Ao invés disso, Henrique VIII deu ordens para que um bom número de participantes de cada vila ou cidade participante do levante deveria ser enforcada em praça pública e depois esquartejada.



Outro alvo da ação do rei foram os santuários católicos. Ao longo de centenas de anos estes locais foram adornados e enriquecidos a partir de doações de peregrinos e continham várias peças em ouro, prata ou ornamentadas com cristais, pedras preciosas... A partir de ordens diretas de Henrique VIII estes santuários foram fechados e suas relíquias passaram a pertencer à monarquia inglesa. O fechamento, destruição e saque dos relicários e dos santuários católicos foi considerado pelo Papa como ato hostil ao catolicismo e resultou num comunicado a toda a comunidade cristã católica declarando a excomunhão de Henrique VIII.



Este ato da Igreja Católica desatou os laços que ainda ligavam o monarca ao catolicismo e levaram o estado inglês a fechar mais de 850 mosteiros e conventos entre os anos de 1536 e 1540. Os religiosos que não se opuseram ao poder de Henrique VIII foram agraciados com pensões para lhes garantir a sobrevivência. Este “soldo” foi, porém, se depreciando com o tempo em função da inflação da época e, depois de alguns anos, muitos monges e freiras viviam em penúria.


Henrique VIII viria a se casar, depois da morte de Jane Seymour, com Anne de Cleves, de quem veio a se divorciar em 1540, por não terem afinidades e bom relacionamento íntimo. No mesmo ano, outro matrimônio, desta vez com Catherine Howard, sobrinha do duque de Norfolk. Um ano depois Catherine foi acusada de já ter tido relações íntimas antes do casamento com o rei e com três amantes. Foi condenada e executada junto com os três homens em 1542. A última esposa de Henrique VIII foi Catherine Parr, que se revelou boa mãe para os filhos de Henrique e o levou a moderar as perseguições religiosas que empreendia. Em 1547, Henrique VIII morreria.

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