Quem descobriu o DNA?
Gabriel Cunha
Em 24/06/2010; Arquivado em História da Ciência, ciência, ensino de ciências.
Tags:biologia, biologia molecular, ensino de ciências, química
Resolvi escrever o texto de hoje ao ver um pequeno erro num especial sobre o sequenciamento do genoma humano que o Estadão publicou pouco tempo atrás.
Quando se pensa na pergunta acima a resposta vem rápida para muita gente: quem descobriu o DNA foram os cientistas James Watson e Francis Crick!
Ah, é? Pois a resposta está errada!
Primeiro porque Watson e Crick não descobriram o DNA. O que os dois cientistas fizeram junto a Maurice Wilkins e Rosalind Franklin foi explicar a estrutura da molécula de DNA, característica fundamental para se entender a função de armazenar informação genética que o DNA desempenha em uma célula. Falarei sobre a corrida para se descobrir a estrutura do DNA e sobre um assunto relacionado em breve, portanto, fiquem atentos aos próximos posts!
Segundo porque quem descobriu o DNA foi um cientista suíço do século 19 chamado Friedrich Miescher.
Friedrich Miescher, a seu dispor!
Em 1869 ele conseguiu isolar o núcleo de leucócitos (algumas das células brancas do sangue) purificados de curativos cheios de pus que ele conseguia em hospitais. Como nessa época os antibióticos não haviam sido descobertos (coisa que só aconteceu em 1928, quando Alexander Fleming descobriu a penicilina), conseguir esses curativos usados era muito fácil, pois infecções graves eram algo normal até os antibióticos começarem a ser utilizados.
A partir dos núcleos isolados dos leucócitos ele conseguiu extrair substâncias ácidas que possuíam alto teor do elemento fósforo e eram resistentes a enzimas que quebram proteínas (mostrando que o novo achado não era de natureza proteica). Esse novo composto químico foi chamado de nucleína.
Um fato curioso é que o trabalho que ele escreveu com esses resultados e descobertas só foi publicado 2 anos depois, em 1871, quando Felix Hoppe-Seyler, chefe do laboratório em que Miescher trabalhava, confirmou todos os resultados.
Felix sabia da importância da descoberta e preferiu repetir todos os passos de seu aluno no laboratório antes de apresentar a novidade à comunidade científica.
Laboratório de Felix Hoppe-Seyler, na Universidade de Tübingen.
Quando todos os achados de Miescher foram confirmados eles publicaram vários trabalhos em revistas especializadas, e é aqui que está o erro do Estadão que me levou a escrever este texto.
O infográfico aponta Miescher como o descobridor do DNA em espermatozoides de peixes. No entanto, o trabalho em que foram estudados os espermatozoides de salmão foi publicado três anos depois dos estudos com leucócitos (em 1874), então o trabalho de 1871 é a verdadeira “descoberta do DNA”, pois foi a primeira publicação que descreveu a nucleína, que depois seria descrita como um ácido nucleico chamado ácido desoxirribonucleico, o famoso DNA.
Veja o especial “Sequenciamento do Genoma, 10 anos”, do Estadão.
Dahm, R. (2007). Discovering DNA: Friedrich Miescher and the early years of nucleic acid research Human Genetics, 122 (6), 565-581 DOI: 10.1007/s00439-007-0433-0
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