BEM VINDO




26 de fev. de 2011

Lutas Sociais 15/16
NEILS (Núcleo de Estudos de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais)



contato: Joana Coutinho e Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida




Apresentação



Ao comemorar seus dez anos de existência, Lutas Sociais, mantendo sua pesquisa crítica de excelente qualidade, aposta em jovens autores. Assim, no conteúdo e no jeito de produzir a revista, mantemos os objetivos definidos em 1996. Este é nosso maior motivo para uma satisfação que compartilhamos com os leitores.

O panorama brasileiro e internacional continua a apresentar motivos para otimismo e preocupação.

Na América Latina, a eleição de Evo Morales elevou para um novo patamar as lutas nas quais se articulam semiproletários e indígenas do subcontinente e a polarização eleitoral no México, onde Felipe Calderón foi declarado vencedor com uma ínfima e suspeita vantagem numérica, expõe as fragilidades de um sistema político que, por sete décadas pareceu irremovível e, de quebra, aumenta a autoridade do EZLN que, à revelia da maior parte da intelectualidade de esquerda, manteve, no essencial, suas críticas às limitações da candidatura que se apresentou como porta-voz dos dominados, mas foi, no mínimo, tacanha no atendimento às aspirações dos que efetivamente lutam para mudar o mundo. Outra grande novidade para este início de milênio, surgiu no Oriente Médio: a resistência política de massa à política genocida do Estado de Israel (diretamente financiado pelos Estados Unidos) se revelou extremamente eficaz no plano político-militar, colocando em xeque a estratégia da "única potência verdadeiramente global" para o Oriente Médio. Dissipou-se a ilusão da "guerra video game" e se evidenciou, neste começou de século XXI, a importância decisiva da participação das massas no enfrentamento de adversários armados até os dentes. Por outro lado, o fracasso estratégico dos EUA pode levar o candidato a império a jogar suas fichas numa guerra contra o Irã, com imprevisíveis conseqüências para toda a humanidade.

Contribuir para uma solução civilizatória do conflito no Oriente Médio passa pela rejeição dos fundamentalismos em choque, o que supõe o desvelamento das pretensões do imperialismo estadunidense na região; pela crítica teórica à tese do choque de civilizações; e pela aposta na capacidade da ação organizada de massas no sentido da autodeterminação de todos os povos que vivem por lá. Isso implicará profundas transformações sociopolíticas. Artigos a este respeito são bem-vindos.

Da mesma forma, as manifestações de massa na França contra a discriminação que, no início, foi apresentada como simplesmente racista (o que não é pouco), mas logo se revelou intimamente conectada com o processo de acumulação capitalista no plano transnacional, apresenta novas potencialidades de luta internacionalista, o que, aliás, também se revela nas resistências aos chamados processos de "reestruturação produtiva" (capitalista) que se desenrolam na indústria automobilística e cujas seqüelas apenas começam a se tornar visíveis.

No plano político brasileiro, apesar dos progressos realizados, deve-se, mais do que nunca, fugir da auto-ilusão. Iniciou-se a organização de uma nova frente de esquerda, o que é de importância inestimável. Mas suas limitações não somente numéricas, mas, sobretudo, no que se refere à elaboração do programa e às formas de lutar por ele, são imensas. Um balanço da participação das esquerdas neste processo eleitoral será indispensável para o avanço das lutas sociais no país e na América Latina.

O dossiê deste número de Lutas Sociais, O governo Lula em questão, já é parte desse balanço, com uma série de textos que necessariamente suscitarão o reexame de tudo o que se escreveu sobre o Partido dos Trabalhadores até o início da gestão presidencial de Luís Inácio Lula da Silva. Jair Pinheiro aborda as redefinições da cena política e o papel que nela desempenha o PT. Maria Izabel Lagoa, ao examinar o mesmo partido, privilegia o ângulo de sua profunda crise. Rudá Ricci centra o foco em um processo político até então pouquíssimo estudado: o lulismo. Enfim, Carla Silva aborda as relações do governo Lula com os dominantes, a começar por um importante meio de comunicação, e, no sentido inverso, Renata Gonçalves examina a política do mesmo governo frente aos dominados, centrando o foco no mais importante movimento social brasileiro, o MST.

Forte atenção continua sendo dispensada às atuais configurações que adquire o contraditório processo de espraiamento do capitalismo pelo mundo. Publicamos a segunda parte do texto de David Harvey, "Acumulação por desapossamento" e o instigante contraponto de autoria de um jovem autor, Cristiano Monteiro da Silva, "Acumulação por centralização: novos traços da fase imperialista na América Latina". Antonio Carlos Moraes discorre sobre a crise do capitalismo e Carlos Eduardo Martins analisa os impactos desta crise sobre as relações internacionais. Rodrigo Castelo Branco aborda as relações entre o NAFTA (Tratado de Livre-Comércio da América do Norte) e a barreira erguida contra trabalhadores dos países periféricos. Revisitando os anos JK, Lúcio Flávio de Almeida examina as potencialidades das lutas antiimperalistas na América Latina contemporânea.

Apesar dos esforços dos ideólogos a serviço da ordem, o capitalismo não se define fundamentalmente por relações de mercado, mas de exploração e dominação de classe. Publicamos "Taylorismos, fordismos e toyotismos: as relações técnicas e sociais de produção configurando reestruturações produtivas", de Célia Congílio Borges, e "Tempo de trabalho e desemprego", de Giuseppina De Grazia. Não somente a produção mais estritamente econômica é socialmente determinada e, mantendo nossa preocupação com os vínculos entre cultura e relações sociais, Daniela Palma estuda a fotografia operária na República de Weimar e Celso Uemori nos apresenta mais um resultado de sua pesquisa em curso sobre a obra de Manoel Bomfim.

Nas quatro resenhas que encerram este número estão presentes algumas das preocupações centrais que impulsionam esta revista ao longo destes dez anos: lutas dos trabalhadores em todo o mundo; questões nacionais e (anti)imperialismo; reprodução e questionamentos ideológicos das relações de dominação.

A revista já estava concluída quando soubemos da morte de Charles Bettelheim. A ele dedicamos este número de Lutas Sociais e agendamos para o próximo o exame de suas contribuições teóricas para a análise do capitalismo e das tentativas de transição para o socialismo. Trata-se de um patrimônio do pensamento crítico à espera de urgente atualização neste início de século tão rico de novos desafios a serem urgentemente enfrentados.

L.F.R.A



SUMÁRIO
Apresentação, 7
ARTIGOS
Acumulação por centralização: novos traços da fase imperialista na América Latina
Cristiano Monteiro da Silva, 10
O “novo imperialismo”: acumulação por desapossamento (Parte II)

David Harvey, 21
A crise do capitalismo mundial e as potências emergentes

Carlos Eduardo Martins, 35
Capitalismo moribundo

Antonio Carlos de Moraes, 40
Mal-estar da democracia na América Latina: lutas e resistências hoje

Eliel Machado, 54
Globalização, Tratado de Livre-comércio da América do Norte e migração internacional: o capital como barreira aos trabalhadores periféricos

Rodrigo Castelo Branco, 65
Não comprar gato por lebre – por um reexame da relação entre nacionalismo e antiimperialismo nos anos JK

Lúcio Flávio de Almeida, 77
Taylorismos, fordismos e toyotismos: as relações técnicas e sociais de produção configurando reestruturações produtivas

Célia Congílio Borges, 91
Tempo de trabalho e desemprego

Giuseppina De Grazia, 101
Um olhar de classe: a experiência da fotografia operária na Alemanha de Weimar

Daniela Palma, 114
A identidade do intelectual e o estatuto da obra e o seu contexto

Celso Noboru Uemori, 123
DOSSIÊ: GOVERNO LULA EM QUESTÃO

Veja e o PT: do “risco Lula” ao “Lula light”

Carla Luciana Silva, 137
Uma cena decepcionante

Jair Pinheiro, 149
Considerações acerca da crise política do Partido dos Trabalhadores

Maria Izabel Lagoa, 161
Lulismo: três discursos e um estilo
Rudá Ricci, 171
Assentamentos como pactos de (des)interesses nos governos democráticos

Renata Gonçalves, 184

LIVROS

Uma ilusão de desenvolvimento – nacionalismo e dominação burguesa nos anos JK de Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida por Ramon Casas Vilarino, 197
Forças do Trabalho: movimento de trabalhadores e globalização desde 1870 de Beverly Silver por Merilyn Escobar de Oliveira, 200

Universidade: a democracia ameaçada de W. Rampinelli, V. Alvim e G. Rodrigues (orgs) por Marli Auras, 203

Discriminação e desigualdades raciais no Brasil de Carlos Hasenbalg por Washington Santos Nascimento, 206

Revés do Avesso: Política, Cultura, Ecumenismo, n° 4-5, por John Kennedy Ferreira, 209

ABSTRACTS, 213

NORMAS PARA COLABORAÇÃO, 216

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