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28 de fev. de 2011

Joaquim Nabuco - Homem de Imprensa

 Joaquim Nabuco - Homem de Imprensa


 
“O traço todo da vida é para muitos um desenho da criança esquecido pelo homem, mas ao qual ele terá sempre que se cingir sem o saber. Pela minha parte acredito não ter nunca transposto o limite das minhas quatro ou cinco primeiras impressões. Os primeiros oito anos da vida foram assim, em certo sentido, os de minha formação, instintiva ou moral, definitiva”. Massangana - Minha Formação, 1900.

A formação que Joaquim Nabuco teve quando criança no Engenho Massangano, observando as crueldades proferidas pela escravidão no seu dia-a-dia, despertou nele a sensibilidade de uma pessoa ímpar. Desmistificar e traduzir todos fatos e atos d’um homem tão inteligente, aguçado e diferenciado, que viveu em um período de grande turbulência na história do Brasil, não será uma tarefa fácil, mas resolvi incluir isso como um dos maiores desafios que irei ter em minha jovem vida acadêmica.

Um sonho e o projeto

Estou produzindo, documentando e já filmando um documentário sobre a ação do jornalismo de Joaquim Nabuco, uma das pessoas mais influentes do século XIX, no Brasil. Todos os crimes cotidianamente cometidos naquele momento, anexando a crueldade que estava cravada no país, a toda desigualdade envolta por seus olhos, Nabuco trataria de acentuar e arduamente trabalhar por meio de diversos argumentos e/ou ações que o tornaria, com o passar do tempo, um dos mais importantes combatentes da escravidão, senão o maior em terra Brasileira.

Eu poderia pegar vários recortes e idéias diferentes para fazer uma reflexão sobre a pessoa ou vida de Joaquim Nabuco (1849 – 1910). Entretanto, prefiro dar ênfase para um assunto que pouco foi discutido nos meios acadêmicos. E, é por este faro/ato, que mergulho bravamente em um mar de pesquisas e na ventura mais gostosa, que irei tentar traduzir grande parte desta vida jornalística e ação do jornalismo de um dos homens mais graduados deste país. Irei resgatar o Nabuco jornalista e como foi a sua luta usando este meio por uma grande e nobre causa.

Joaquim Nabuco – Homem de Imprensa

Nabuco escreveu contra a ação da igreja – impulsos de sua juventude - na campanha maçônica de 1873. Escreve também contra os bispos e o catolicismo com artigos defendendo a liberdade religiosa.

A capacidade de observar o desfecho político no Brasil e no mundo, fez com que Joaquim Nabuco ganhasse notoriedade. A sua busca foi moral e esperava dela o princípio da modernidade, das reformas, e em seus textos proclamava estes questionamentos. Ele usou os artigos jornalísticos como meio para ampliar suas forças, combatendo a escravidão e principalmente tentando organizar 'com idéias' as reformas que o País precisava.

Seus artigos tinham um foco principal e atingiam diretamente aos oposicionistas de libertação, políticos e grandes latifundiários. Neste aspecto travou uma grande batalha. Para isso, podemos neste pensamento constatar também, a sua trajetória jornalística. A experiência de Nabuco ficou condicionada apenas num único tema - A Abolição. Foi sob este objetivo, que ele revelou-se um homem das letras e sua qualidade de jornalista, um árduo guerreiro pela valentia que desbravou em palavras, discursos e escritos jornalísticos, sendo chamado por muitos como - Homem de Imprensa.

Os primeiros artigos aconteceram na coluna do jornal A Reforma (Jornal acadêmico - saindo da faculdade de direito), foi seu primeiro contato com o Jornalismo. A Actualidade, Jornal do Commércio, Revista Brasileira, A Época, O Paiz, Jornal do Brasil, La Razon (jornal uruguaio), A Gazeta de Notícias, foram jornais que escreveu e colaborou durante sua vida. Escreveu alguns folhetins, O Globo e opúsculos como: Por que continuo a ser Monarquista - o dever dos Monarquistas, O erro do Imperador, O eclipse do abolicionismo e Eleições liberais e eleições conservadoras.

O primeiro aspecto da sua ‘ação’ está marcado pela sua colaboração em 1875, no O Globo, como folhetinista e na sua presença na Época, revista fundada com Machado de Assis, de efêmera duração. Teve presença na Revista Brasileira, em cuja redação nasceu na Academia Brasileira de Letras. Os textos de Nabuco por determinado tempo, estender-se-iam por colunas e colunas do Jornal do Commércio (maior periódico da época) tratando sobre diferentes temas – direito público, o jurista e o literato, sendo atraído por curiosidades estéticas do homem moderno. Como correspondente em Londres para o Jornal do Commércio, assinou com o pseudônimo de “Freichutz”. A ligação profissional com o jornal teve início na data de 7 de janeiro de 1882. Foram 89 cartas, daquela data até 31 de dezembro de 1884. Um trabalho exaustivo para a época.

Na América do sul seu texto teve grande prestigio. Como correspondente para o La Razon (escreveu ao mesmo tempo ao jornal do comércio). Porém, só foi correspondente por razões financeiras. Nabuco exercia a profissão por ocasião de sua estadia na cidade luxuosa (Londres) não por afeto ao tema.

No jornalismo Quincas o Belo, como também era chamado, manteve sempre o ideal liberal. Por toda vida prezou pela independência dos Jornalistas. Ele foi homem de imprensa pela necessidade de ampliar seu campo de ação, buscar outro instrumento para a sua campanha doutrinária. Fixou em seus artigos jornalísticos o seu pensamento político-liberal.

A imprensa para Nabuco teve aspectos bem característicos, um literário, doutrinário, estético, outro combativo, orientador, patriótico. É interessante salientar que para ele a preocupação doutrinária, a sistematização dos princípios, o empenho de convencer pela idéia, pela razão, pelo pensamento, no jornalista preciso, objetivo, sintético, concludente, não ficou de um modo geral em Joaquim Nabuco. Pois, em muitos de seus artigos e textos, Nabuco era 'obrigado a trabalhar' com escritos do cotidiano, no jornalista comum, por razões de seu editor no Jornal do Commércio.

O uso do meio no combate para um bem maior

A abolição em Nabuco apenas o fazia vibrar na paixão que cria o grande jornalista. Entre os anos de 1885 a 1888, a sua ação jornalística foi feroz de combate incisivo, anos que se firmaria com os seus dotes de argumentador estilista, irônico e ferino.

Joaquim Nabuco e André Rebouças criariam O Abolicionista - Órgão da Sociedade Brasileira Contra Escravidão. Foi um jornal que teve efêmera duração, circulando mensalmente durante um ano.

As amizades que Quincas conquistaria em suas viagens, durante o período de ostracismo da política brasileira, viria ele a receber com méritos o reconhecimento dos ingleses pela causa que divulgava. Nabuco ganha lugar como membro da Anti-Slavery Repórter. Escreve para o jornal da British and Foreign Anti-Slavery Society, como membro correspondente, fazendo contato com outras sociedades abolicionistas e expandindo para o mundo seu pensamento. Neste momento, Nabuco estaria próximo ao auge do reconhecimento.

Na coluna de O Paíz, quer assinando artigos, quer publicando a sessão parlamentar, quer enviando correspondências do estrangeiro, junto com os escritos no Jornal do Commércio e em seus textos na British and Foreign Anti-Slavery Society seria a fase aguda da campanha abolicionista, na imprensa Nabuco revelou-se o batalhador ativo, vigoroso, eficiente em artigos e comentários que qualificaram as suas brilhantes qualidades jornalísticas, que intensificou com defesas em questão da abolição da escravidão no Brasil.

Em toda a campanha de imprensa pela abolição, o autor de ‘O abolicionismo’ revelaria as suas belas qualidades de polemista, porque os golpes lhe vinham de vários os lados, as injúrias choviam sobre ele, os doestos o alvejam sem medida. E, foi no jornalismo, onde o homem dos grandes discursos encontrou o éco da pregação arrojada.

“Não posso negar que sofri o magnetismo da realeza, da aristocracia, da fortuna, da beleza, como senti o da inteligência; e o da glória; felizmente, porém, nunca os senti sem a reação correspondente; não os senti mesmo, perdendo de todo a consciência de alguma coisa superior, o sofrimento humano, e foi graças a isso que não fiz mais do que passar pela sociedade que me fascinava e troquei a vida diplomática pela advocacia dos escravos”. O Abolicionista – O Abolicionismo, 1883.

À tona do direcionamento humanista e sociológico para o desenvolvimento da campanha abolicionista nos artigos e discursos de Nabuco, teve seu foco principal na modificação da sociedade brasileira, com o sonho de ampliar a liberdade e condicionar a igualdade de oportunidades para toda população. Nabuco não pensava em apenas acabar com a escravidão, mas também dar condições para que o ser humano tivesse oportunidade de trabalhar, estudar e viver de uma forma mais digna.


Nabuco e o sonho de uma imprensa livre

Para Joaquim Nabuco a imprensa não poderia jamais ter um elo com qualquer partido político. Quase todos movimentos da imprensa brasileira, foram na época, com mais ou menos moderação, abolicionista. Nas suas colunas vinham os que aderiram ao movimento e desejavam juntar sua voz ao coro que cada vez mais crescia, sob o fascínio da palavra quente, ardorosa, arrebatadora de Joaquim Nabuco. Porém, outros como descreve Nabuco, consolidavam outros pensamentos: “...o interesse de vários jornais em noticiar a venda de escravos, fazer propaganda de anúncios, retratar sempre a figura menosprezada do negro, usando palavras para abasta-los e incluir-lhes uma identidade (...) era usada também à imagem do negro de calça frouxa, descalço e com gorro na cabeça para retratar sua imagem”.

Nabuco proclamava, que os artigos jornalísticos teriam de ter suas palavras direcionadas para a sociedade, para a liberdade intelectual e para a defesa da igualdade social. Com este pensamento, tratou de ampliar sua ação e concretizar o sonho de ter seu próprio jornal, tentativa, que infelizmente foram por água abaixo.

"Este o homem atualíssimo, de palavra e de idéias tão moças que dificilmente o imaginamos nascido há quase cem anos..." Gilberto Freyre em discurso à Câmara dos Deputados. 20 de maio de 1947.

Os artigos jornalísticos na última fase de pregação pela campanha são admiráveis pela forma de serenidade e cultura. São obras duradouras, que fogem do efêmero jornal e hoje podem ser lidos como verdadeiro deleite intelectual e com utilidade de ensinamentos que perdurariam nos dias atuais.

É sobre essa atualidade jornalística, sobre os fatos de um jornalismo preciso e contundente, que hoje os escritos de Joaquim Aurélio Barreto de Araújo insistem em cativar e deslumbrar muitos e muitos estudiosos.

Espero que o documentário (projeto para minha graduação em jornalismo) possa dar força ao coro de Nabuco e traduzir a ação humanista que o jornalismo nunca deveria ter perdido como no decorrer desta nossa história.

Fonte: disponivel (28-02-2011): http://www.overmundo.com.br/overblog/joaquim-nabuco-homem-de-imprensa

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