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11 de set. de 2010

Matemática para educação Infantil

Matemática para educação Infantil

Samuel de Sousa Santos


A Educação Infantil é um período extremamente fértil em relação à construção de novos conhecimentos, sejam eles sociais, afetivos ou cognitivos, sendo a criança dessa faixa etária capaz de estabelecer relações complexas entre os elementos da realidade que se apresenta.

Assim, freqüentar uma classe de Educação Infantil significa, além da convivência entre pares, ter acesso a muitas oportunidades para a construção de novos conhecimentos, graças às ações que a criança exerce sobre o mundo real.

Dentre os conhecimentos que serão construídos nessa etapa da escolaridade, a Matemática ocupa um lugar de destaque. Numerosas pesquisas têm apontado a relevância do trabalho com essa disciplina para as crianças pequenas, especialmente no que diz respeito à construção do conceito de número, além das noções ligadas às grandezas e medidas, bem como espaço e forma.

A Matemática está presente em muitas das atividades realizadas pelas crianças, por exemplo, dividir porções de lanche; distribuir materiais entre os colegas; calcular a distância entre sua posição e um alvo a ser atingido; pensar no trajeto mais curto para se deslocar de um lugar a outro.

A literatura tem demonstrado que, desde muito pequenas, as crianças já elaboram conhecimentos sobre Matemática, fato que vai ao encontro de nossas observações de crianças pequenas brincando, conversando, resolvendo situações-problema que se apresentam no dia-a-dia. O que fazer, por exemplo, quando há mais pessoas do que lugares à mesa? Onde se posicionar para que a bola acerte o cesto? Como dividir entre os amigos as balas?

Não parece acertado qualificar esse ramo de atividade como uma disciplina formalizada que deveria ser reservada aos anos seguintes da escolaridade, uma vez que, desde a Educação Infantil, as crianças já sabem muito sobre relações matemáticas, pois estão expostas todo tempo a esse gênero de conhecimento.

Assim, uma questão que merece atenção, frente às freqüentes críticas ao modelo de ensino de Matemática vigente, é fundamentalmente pensar como torná-la significativa para os alunos.

Deixar para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio a discussão sobre os motivos que levam vários alunos a fracassar nessa disciplina pode ser perigoso, uma vez que a Educação Infantil faz parte da formação escolar das crianças e desempenha um importante papel na construção de conhecimentos. Assim, a reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem nessa etapa da escolaridade poderá fazer parte de um quadro de referência sobre como as crianças aprendem Matemática, por que não aprendem e o que aprendem.

Na Educação Infantil, a sala de aula deve ser um lugar de exploração dos elementos da realidade que cerca os alunos. O educador deve estar constantemente preocupado em desenvolver nas crianças a curiosidade e o interesse pela interpretação dos fenômenos que ocorrem no meio em que estão. Assim, “experimentar e descobrir” pode ser uma maneira muito rica e interessante de aprender. Para que isso ocorra, a criança deve ter a oportunidade de agir sobre sua realidade. Proporcionar à criança dessa faixa etária situações ricas e desafiadoras, as quais possam gerar a necessidade de resolver um problema efetivo, parece ser fundamental. O papel do professor é de grande importância nesse processo, uma vez que, além de deixar a criança livre para manipular e experimentar os materiais, como também observar as reações decorrentes, deve, em seguida, propor à criança problemas reais a serem resolvidos, criando, assim, uma situação de aprendizagem significativa.

O trabalho de Matemática na Educação Infantil deve, dessa forma, garantir que as crianças façam mais do que recitar números e decorar os nomes de figuras geométricas. É preciso que possam, partindo dos conhecimentos prévios de cada uma, avançar em seus conhecimentos mediante situações significativas de aprendizagem. Várias são as possibilidades para que isso ocorra: as situações de jogos; as resoluções de problemas; as atividades lógicas etc. O que vai garantir um aprendizado efetivo é que a criança possa ser o protagonista desse processo, ou seja, um ser ativo que busca respostas a questões verdadeiras e instigantes.

Tomando como base o Referencial Nacional Curricular (RCN), destacam-se três blocos de conteúdos a serem trabalhados na Educação Infantil: “números e sistema de numeração”; “grandezas e medidas”; “espaço e forma”.

Durante muitos anos (especialmente durante as décadas de 70 e 80), as propostas de trabalho de Matemática para as crianças pequenas tinham como ponto principal a idéia de que não se devia ensinar números, mas sim propor atividades “pré-numéricas”, desconsiderando tudo aquilo que as crianças já sabiam sobre eles. Essa idéia tinha como pilar de sustentação interpretações bastante particulares da teoria piagetiana, as quais preconizavam que não se podia ensinar números antes da noção de conservação estar construída. Assim, todo o trabalho de numeração era centrado, mesmo nas séries iniciais, nos aspectos lógicos do número em detrimento daqueles ligados à sua aplicabilidade.

Atualmente, considera-se que para aprender sobre numeração as crianças devem lidar com os números e com o sistema de numeração, trabalhando com resolução de problemas, contagem e regras do sistema decimal. Assim, as crianças devem ser capazes de pensar e discutir sobre as relações numéricas utilizando as convenções de nossa própria cultura, tendo familiaridade com números e desenvolvendo as habilidades matemáticas que capacitem o indivíduo a enfrentar as demandas práticas do dia-a-dia, além de compreender informações matemáticas, tais como gráficos e tabelas.

Em relação à geometria, faz-se necessário considerar que a criança constrói o espaço a partir de seu próprio corpo e de seus deslocamentos, construindo paulatinamente noções geométricas mais complexas. Dessa forma, o trabalho envolvendo espaço e forma não deve limitar-se ao reconhecimento e memorização de formas geométricas. Há que se desenvolver propostas que considerem o espaço sob a perspectiva do esquema corporal, da percepção do espaço, além das noções geométricas propriamente ditas.

O trabalho de grandezas e medidas propicia que as crianças possam estabelecer relações entre objetos, comparando-os de acordo com um padrão (não convencional nesse momento da escolaridade). Assim, cabe ao professor organizar situações nas quais o uso da medida seja uma necessidade para as crianças. A própria marcação do tempo, por meio de um calendário adequado, constitui importante momento de reflexão para os alunos.

Por fim, não se pode deixar de considerar a importância de atividades tais como classificar, ordenar, seriar e corresponder, as quais não se referem especificamente a nenhum conteúdo da Matemática, mas que servem como organizadores do raciocínio lógico matemático. Essas atividades visam desenvolver as operações intelectuais que permitem à criança estabelecer relações entre os elementos da realidade.

REFERENCIA

MAÍSA PEREIRA PANNUTI -Psicóloga (USP), Mestre em Educação (UFPR), Doutoranda em Educação Matemática (UFPR). Coordenadora pedagógica da Escola Anjo da Guarda, Curitiba, PR.



SALTO PARA O FUTURO / TV ESCOLA

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