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27 de mai. de 2013

Retrato de sala de aula


Retrato de sala de aula

No meu dia-a-dia em sala de aula vivencio muitas coisas. Como trabalho com crianças de 6 anos é enriquecedor acompanhá-las  em seu primeiro dia de aula: apreensivas, curiosas, assustadas e chorando muito, com medo do que virá pela frente.
No outro lado, pais não menos apreensivos, assustados e chorosos, tendo que “abandonar” seu filho na escola, sozinho e desprotegido. 
Todos nós que somos pais passamos por isso. Uma mistura de sentimentos, medo, ansiedade e orgulho, afinal, nosso filho cresceu e está dando seus primeiros passos rumo a tal independência (que medo).
Inicio o ano letivo. Todas as crianças com seus lindos materiais escolares, caixa de lápis de cor, borracha e lápis com seus heróis estampados. As famosas mochilas de rodinha cheias de cadernos, tudo cheirando a novo e pronto para ser usado. 
 Costumo acolher meus alunos em seu primeiro dia com atividades agradáveis e de fácil realização. Aproveito para traçar um diagnóstico da turma e detectar o nível em que as mesmas se encontram.  A partir destes dados começo com os conteúdos propriamente ditos.
Depois de alguns anos em sala desenvolvi uma percepção grande em relação às crianças e meu olhar já se volta para aquelas que não estão conseguindo acompanhar o restante do grupo. As atividades ficam incompletas, não param quietas em sua carteira, parecem distantes e desestimuladas, algumas parecem que não tem força para se mexer, apáticas e sem aquele brilho no olhar.
Sinal vermelho, algo começa a dar errado. É preciso conversar com os pais e verificar o que está acontecendo. Talvez a criança esteja dormindo muito tarde, alimentando-se mal, necessitando de uma ajudinha em casa para conseguir acompanhar as outras crianças.
Nada muda, a apatia persiste e as atividades continuam incompletas. A desorganização parece só aumentar. Novo contato com os pais, que parecem não admitir que algo está errado. Os colegas de sala vão avançando, as letras vão sendo descobertas e um novo mundo se descortinando somente para alguns.
Aquela criança parece não se desenvolver e a cada dia fica mais perceptível sua dificuldade. Os colegas já não a querem para brincar, pois a mesma está sempre atrasada e não sabe responder as perguntas da professora. Inicia um processo de exclusão natural, onde os mais fortes dominam a situação.
Novo contato com os pais. Explico o que acontece e sugiro uma avaliação médica a fim de minimizar a angústia de todos e descartar qualquer problema neurológico. Novamente vem a negação: “Meu filho não tem nada”. E as dificuldades continuam...
Finalmente, depois de muitas idas e vindas, bilhetes enviados, noites sem dormir, a criança vai ao médico: Diagnóstico de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade). Remédio prescrito, criança medicada. Tudo parece bem, a criança consegue concluir as atividades, está mais caprichosa, sua letra, organização e socialização melhoraram. Dou início ao resgate do conteúdo através de atividades paralelas.
O tempo passa e a medicação vai sendo esquecida. Um dia toma, dois dias não toma. Começa a recaída e um novo contato com os pais é feito.
Vem a resposta: “Não vou mais medicar meu filho, ele é muito novinho e vai ficar viciado. Minha vizinha disse que sou maluca de dopar uma criança e que a culpa é da escola que não sabe ensinar”.
Só me resta como professora torcer pela criança, que afinal não tem culpa de ter nascido com TDAH. Infelizmente não posso mudar os pais e tenho que conviver com relatos como este o ano inteiro.
Para ilustrar esta minha fala gostaria de compartilhar com vocês o desenho de uma aluna. Seu nome é Beatriz. Os nomes das outras crianças foram retirados, por questões lógicas. Observem que neste desenho a aluna retrata uma situação real, onde a criança M está alheia, sentada no canto da sala observando uma borboleta. Esta criança em questão tem o diagnóstico de TDAH e os pais resolveram não medicar.
O desenho fala por si.

14 de mai. de 2013

Profissão de risco: Professor


Profissão de risco: Professor



As coisas dentro dos muros escolares estão mudando (para pior). Infelizmente ser professor hoje é correr riscos. Não se tem mais o respeito da sociedade. As leis existem para beneficiar somente os alunos e eles sabem disso...
As escolas estão adoecendo, com professores desestimulados em salas repletas de alunos que simplesmente não querem aprender.
O professor está com medo de usar a sua autoridade, pois o aluno tem em seu benefício a lei. São ameaçados e coagidos o tempo todo com palavrões e mensagens sublimadas que fazem tremer a qualquer pessoa.
Não se pode cobrar o uniforme, retirar o celular, coibir as conversas, exigir as tarefas. Se os professores agirem desta forma, estarão respondendo processo administrativo - muitos deles chegando ao ministério público.
Quando se chamam os pais e estes vêm até a escola, costumam proteger os filhos e achar justificativas para seu comportamento. Se estiverem separados, a culpa é do pai que não visita, é da mãe que o abandonou, é do professor que está cobrando demais, é dos jogos eletrônicos muito violentos, é das companhias erradas e por aí vai. Poderíamos encher folhas e mais folhas de desculpas...
A cada nova pesquisa realizada vai-se atrás dos motivos do aumento da violência nas escolas. Criam-se projetos para buscar justificativas, metodologias, problematizações e fundamentação teórica que de alguma forma tragam respostas para este momento caótico vivido na educação.
O que afinal está acontecendo? As famílias mudaram, a sociedade mudou, as pessoas mudam, mas será que os valores devem mudar também? Será que se não moro numa família constituída de pai, mãe, filhos e cachorros vai mudar a verdadeira essência que vem de exemplos e atitudes e não de palavras jogadas ao vento?
Até quando vamos tentar encontrar culpados para ações que nós próprios desencadeamos? Desde quando trabalhar fora é motivo para não dar atenção aos filhos? Desde quando uma criança de 6 anos exige dos pais um celular, do contrário ameaça gritar e sapatear? O que as pessoas irão dizer?
Aí vêm aqueles teóricos que estudam a natureza humana dizer que temos que nos acostumar. Teóricos estes que não sabem o que é uma sala de aula, não convivem com o dia-a-dia estressante de 40 horas e, às vezes, 60 horas, lado a lado com jovens que acham que o céu é o limite.
O professor está adoecendo. Perde-se aquele profissional que deveria mediar o conhecimento, apontar direções, ser referência e um modelo vivo de dedicação e respeito. Este profissional está entrando em extinção, infelizmente!

7 de mai. de 2013

Perfil do aluno com dificuldades na escola


Perfil do aluno com dificuldades na escola


1.  Possuem, normalmente, mais de três irmãos;

2.  Os pais são separados e quem cria o filho são as avós;

3.  Nível de escolaridade baixo, os pais sem o ensino fundamental;

4.  Famílias desestruturadas, onde cadernos e agenda nunca são assinados;

5.  Nunca comparecem as reuniões da escola;

6.  Não possuem telefone fixo e o celular nunca atende ou está fora de área;

7.  Os cadernos desorganizados, sem capa;

8.  Material escolar sempre incompleto;

9.  Faltosos demais;

10.             Chegam tarde, pois perdem a hora muito facilmente;

11.             Pais que conhecem como ninguém seus direitos e por qualquer motivo enviam bilhetes malcriados aos professores;

12.             Não sabem o nome da professora do filho e nem a série em que ele estuda;

13.             Os pais vivem de “bico”, trocando bastante de emprego;

14.             Quando aparecem na escola falam: “Só se eu matar professora, não sei mais o que fazer!”.

 

E o tempo passa...